Agências já reportam alta nas vendas sobre o ano passado, mesmo a vários dias do feriado. Hotéis e companhias aéreas também estimam avanço.
Em tempos de crise, setores que vivem de produtos e vendas considerados “supérfluos” são um dos primeiros a serem impactados. O de turismo não é diferente. Mas agora, depois do movimento fraco nos anos anteriores, as agências comemoram um aumento do número de pacotes para o carnaval a cerca de três semanas do feriado.
Uma delas é a Latam Travel, que na primeira metade de janeiro já contabilizava um crescimento de 8% nas vendas de pacotes de Carnaval na comparação com 2017. A Agaxtur reportou avanço ainda maior, de 12%. A CVC não revela números, mas também garante que sentiu “aumento bem expressivo” nas vendas para este feriado.
“O que a gente observa é um aumento expressivo na procura antecipada por viagens de carnaval. Antes, o pessoal ficava inseguro e saía correndo atrás de alguma promoção na última semana. Neste ano, a gente já vê as pessoas se organizando, e eu dou esse crédito ao bolso mais cheio”, analisa Viviane Piovarcsik, gerente de vendas da CVC.
Carlos Braga, diretor de vendas da Agaxtur, também diz que as procuras por pacotes de carnaval estão mais adiantadas em 2018. “No ano passado, as pessoas que compraram fizeram em cima da hora”, relembra, apontando que a crise impactou fortemente as vendas para o carnaval nos anos anteriores, especialmente em 2015.
Esse quadro foi puxado por decisões como a da musicista paulistana Stéfanie Singer, que tem 29 anos e sempre gostou muito de viajar no carnaval – tanto para destinos onde pudesse cair na folia quanto para locais recomendados para fugir da bagunça. “Já fui para Recife, São Tomé das Letras, Ouro Preto, hotel fazenda”, enumera ela sobre suas viagens carnavalescas.
No entanto, em 2015 os preços passaram a pesar demais em seu bolso e ela deixou de viajar. “Em 2015, eu iria de novo para o Recife, ou para a Chapada”, relembra ela, que acabou desistindo. “A decisão financeira pesou muito, no carnaval estava muito caro.” Nos anos seguintes, também não houve viagem para Stéfanie.
“Em 2016 e 2017 eu fiquei em São Paulo mesmo, curtindo bloquinhos na Vila Madalena. Acabei gostando, mas estava sentindo falta de viajar.”
Para 2018, no entanto, ela já está programando a viagem de carnaval, que, embora ainda não tenha o roteiro definido, será um lugar com praia. “Agora eu estou sentindo uma melhora, uma retomada dos projetos profissionais. Então, vou viajar”, conta ela, ressalvando que não escolherá um lugar muito distante desta vez.
O setor hoteleiro também está animado. É o que afirma Manoel Linhares, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH). Segundo ele, a expectativa para os destinos mais procurados pelos foliões, como Salvador, Rio de Janeiro e Recife, é que a ocupação fique entre 90 e 95% da capacidade dos hotéis. Nos anos de crise, o número não chegou a bater os 80%.
Um dos principais fatores para o otimismo é o bom desempenho das festas de final de ano. “A hotelaria no carnaval certamente terá uma ocupação muito boa, a ver pelo que foi o final do ano. Ninguém esperava”, comemora Linhares, apontando que a taxa ficou superior a 90% no Ano Novo do Rio de Janeiro e 95% no Ceará, por exemplo.
Não são apenas as agências de turismo e os hotéis que esperam um carnaval melhor em 2018. Companhias aéreas estão destinando um número maior de voos extras para os dias de feriadão.
A Azul aposta em movimento maior neste ano na comparação com o carnaval de 2017 e 2016. Por isso, aumentou de 200 para 285 o número de voos extras para a época próxima ao feriado deste ano – entre 8 e 18 de fevereiro. Segundo a empresa, serão 30 mil assentos a mais para 36 destinos.
Já a Avianca diz que tem “presenciando uma melhora na demanda por passagens aéreas”, ressalvando que “o ritmo de viagens aéreas é de retomada e recuperação, porém ainda tímido”. A companhia irá oferecer mais de 200 voos extras entre os destinos mais procurados pelos clientes nesta época – São Paulo, Florianópolis, Maceió, Rio de Janeiro, Recife e Salvador.
A Latam informou que não iria comentar as expectativas para o feriado, e a Gol não respondeu aos pedidos de informação da reportagem.
Ritmo de crescimento
O setor espera que o carnaval de 2018 marque o início de uma retomada constante. Linhares, da ABIH, comenta que “o turismo é um dos primeiros a sentir o início de uma crise, mas também é impactado muito rápido quando começa a recuperação”.
Já Piovarcsik, da CVC, aponta que a empresa precisou ser estratégica para segurar as vendas no ápice da crise, e agora pretende manter ações como descontos e prazos maiores de parcelamentos. Em 2017, a empresa registrou um crescimento de 14% sobre 2016 no número de pacotes de viagens de lazer.
“Foram ações rápidas, para que o cliente que viajaria 15 dias viajasse uma semana, mas não tirasse o produto da cesta de consumo dele”, comenta Piovarcsik, já prevendo manter o ritmo nos próximos meses. “Tudo isso está mantido, em time que está ganhando não se mexe. Vamos manter as mesmas armas para manter o cliente engajado.”
Braga, da Agaxtur, também defende que o setor precisa continuar sendo estratégico. “A gente tem que se reinventar, fazer com que a máquina gire. A gente monta estratégia de preço para atrair o cliente, oferece parcelamento com mais tempo. Tem dado certo.”
Se depender da musicista Stéfanie, a expectativa de alta no setor de viagens deve se confirmar. “Para o carnaval de 2019 eu já trabalho com duas hipóteses: escolher entre Salvador e Recife, ou optar por uma viagem internacional.”
FONTE: G1