estudante de doutorado Júlia Viegas, de 28 anos, integra equipe de programa que pesquisa briófitas. Grupos se revezam em períodos de 30 dias no local; veja fotos.
á pouco mais de um mês, um grupo de quatro pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) está acampado na Antártica, região conhecida pelas temperaturas mais baixas do planeta. A expedição investiga espécies vegetais nativas do continente e o impacto das alterações climáticas nesse ecossistema.
A partir de fevereiro, a estudante de doutorado da UnB Júlia Viegas, vai se juntar ao grupo, dessa vez para coordenar a expedição composta por pesquisadores chilenos e australianos. Esta é a terceira vez que a moradora de Brasília viaja para a região polar para coletar tipos específicos de musgo, que supostamente só acontecem no continente.
“Na Antártica nosso objetivo é entender a diversidade genética. Fazemos um comparativo entre as espécies que vivem no norte e no sul. Investigamos como ocorreu o processo de dispersão para que elas aconteçam nos dois polos.”
A partida será no Rio de Janeiro com o avião Hércules, da Força Áerea Brasileira. A aeronave fará escala no Rio Grande do Sul e de lá seguirá rumo ao Chile. No país, a pesquisadora da UnB deve seguir de navio – administrado pela Marinha do Brasil – por cinco dias até a ilha Robert, local onde também já esteve acampada em 2015.
Já no continente de gelo, a rotina, segundo a pesquisadora, se divide entre o trabalho em campo para coleta de espécies, tarefas de manutenção do acampamento e até o convívio social com equipes de outros países que também investigam a vida nos polos. Em um mês, a expedição percorre grande parte dos 132 quilômetros de extensão da ilha.
Durante o deslocamento a equipe se comunica via rádio com o navio da Marinha. O grupo recebe diariamente informações climáticas e ajuda no deslocamento entre pontos da ilha.
“Sempre é necessário que um alpinista acompanhe o grupo, por questões de perigo no ambiente. Lá todo mundo também ajuda a cozinhar e a manter o acampamento limpo.”
Temperatura negativa
A sensação de frio é constante, conta a pesquisadora da UnB. Na Antártica, no período entre dezembro a março, a temperatura varia de -5 a 5 graus. De acordo com a doutoranda Júlia Viegas, a variação chega a ser considerada “amena” quando comparada com a sensação térmica, que pode ser bem inferior.
“Dependendo do local e condições climáticas, a sensação térmica na Antártica chega até a 32 graus negativos.”Para conviver com o frio intenso, os estudiosos brasileiros usam roupas especiais e botas adquiridas com o apoio da Marinha brasileira. Além de aquecer os corpos, alguns tecidos também são impermeáveis e facilitam a conservação do calor e o deslocamento na neve.Nos acampamentos, a situação é “mais restrita”, conta Júlia. “O banho tem que ser em um dia sem chuva e sem vento”, uma vez por semana. Diariamente a limpeza é feita por meio de lenços. Como a região facilita o congelamento da água, a neve precisa ser descongelada para o uso pessoal.“Pegamos a neve em camadas inferiores, derretemos e usamos no banho. Chegamos a adaptar um balde, fizemos furos e utilizamos como chuveiro.”Contribuições científicas
Para a pesquisadora que fará a terceira viagem ao continente polar, a sensação de contribuir para estudos ambientais é de “maravilhamento”. “É um local muito restrito, que poucas pessoas têm acesso, já que é mais voltado para pequisa.”
A contribuição científica citada pela doutoranda diz respeito à investigação do poder dos vegetais objetos de análise: as briófitas. De acordo com a pesquisa, este é o segundo maior grupo de plantas terrestres – em número de espécies – e tem potencial medicinal.
As briófitas funcionam também como “bioindicador de qualidade ambiental”. Este potencial é aproveitado para estudos sobre mudanças climáticas no planeta.
já na medicina, a pesquisa dos estudantes da UnB pode ser aproveitada em trabalhos que investigam o potencial antifúngico, anti-inflamatório e antibiótico dos musgos. “Nosso trabalho pode ser base para essas outras pesquisas que têm função mais específica”, explica.
Todo o material coletado na Antártica é desidratado e transportado para Brasília para posterior identificação e extração do DNA das espécies.
fonte: g1